Escrito por: Amanda Santos
Saúde mental: é de comer ou de passar no cabelo? Após 1 ano e meio de isolamento social, acredito que ter sua saúde mental completamente boa é um privilégio de poucos. E cá entre nós, o Coluni e seu ambiente de alta pressão acadêmica nunca foi o mais acolhedor no que tange saúde mental. Na 11ª edição d’O Prisma, lançado em maio de 2019, o Grêmio divulgou os resultados e conclusões de uma pesquisa, feita com os alunos do Coluni, acerca do tópico. Os resultados foram preocupantes. Refizemos a pesquisa, com algumas adaptações, 2 anos depois e em um contexto diferente.
Dizer que a pandemia causada pelo Covid-19 trouxe grandes desafios chega a ser um eufemismo. Seu impacto foi global e drástico, fisica e emocionalmente. No que concerne ao ambiente escolar, o fechamento das escolas e a falta de convívio social afetaram e continuam afetando a vida dos estudantes. Estamos em um período crucial de formação e de afirmação de identidades, e estamos vivendo-o durante uma época de incertezas e de medo, socialmente isolados. Assim, é de se esperar que os resultados mostrem-se mais alarmantes do que os encontrados em 2019, e foi exatamente isso que aconteceu.
Como você tá, Coluni?
A nossa pesquisa foi feita através de um questionário online, anônimo, enviado nos grupos de Whatsapp dos triênios. Obtivemos 163 respostas, 69 do 1º ano, 53 do 2º ano e 41 do 3º ano. Os resultados são os que seguem.
Em todas as séries, mais de 75% dos alunos têm se sentido deprimidos e/ou desanimados com muita frequência, chegando a assustadores 90.2% no 3º ano. Para efeito de comparação, em 2019 esses valores estavam entre 51% e 63%.
O número de alunos que tomam (ou tomavam) antidepressivos e/ou ansiolíticos também aumentou, superando a marca dos 25% no 3º ano. Em 2019, os valores estavam entre 9 e 15%.
No 1º ano, todos os alunos relataram um decaimento em sua saúde mental em vista da pandemia. No 2º e 3º ano, esse número supera os 90%.
Dos estudantes que responderam sim à pergunta anterior (95.7% do total), apenas 2.5% acreditam que o Coluni e/ou a pressão acadêmica não são fatores relevantes nesse decaimento.
Os alunos também foram perguntados se achavam acha que o COLUNI oferece apoio e/ou preocupação suficiente com a Saúde Mental dos estudantes. Apenas 9.8% considera o serviço completamente satisfatório, 51,5% disse que o serviço é parcialmente satisfatório, podendo melhorar, e 38,7% considera o serviço completamente não-satisfatório. Em contraste, em 2019 por volta de 25% considerava o serviço completamente satisfatório.
Em uma sexta análise, os estudantes foram questionados se desenvolveram e/ou tiveram piora em algum transtorno mental durante a pandemia, e se sim, qual(is). Apenas 22.7% relatou não ter desenvolvido nenhum transtorno mental e/ou não ter tido piora em algum já existente. 44,8% desenvolveu ou teve piora em sua ansiedade, 13,5% em depressão, 16% em déficit de atenção, 5,5% em transtorno bipolar e um número menor de pessoas em outros transtornos (transtorno de pânico, obsessivo-compulsivo, alimentar, autismo). Por fim, 38% relatou achar que sim, desenvolveram transtornos, mas não receberam diagnósticos, o que nos leva à próxima pergunta, “Você procura (ou já procurou) ajuda profissional? (psicólogos, psiquiatras, e/ou semelhantes)”. 51,5% dos respondentes disse sim, enquanto 48,5% não.
Cansaço, muito cansaço
Dados são importantes para a visualização da dimensão do problema, mas são só isso, dados. Os alunos do Coluni não são e não devem ser tratados como porcentagens. Seguindo essa linha de pensamento, nosso formulário também possuía perguntas abertas, não-obrigatórias, para que aqueles que se sentissem confortáveis compartilhassem com a gente um pouco mais sobre o que estão sentindo. Devo confessar, caros leitores, que me emocionei com quase todas as respostas.
Pressão. Desânimo. Insuficiência. Preocupação. Sobrecarga. Esgotamento. Culpa. Exaustão. Cansaço. Os sentimentos relatados são praticamente os mesmos, ainda que haja uma multiplicidade de contextos e necessidades diferentes. A pressão acadêmica, seja própria ou exterior, aliada com o contexto social e sanitário atual e a dificuldade de aprendizado desestabilizaram todos, entre muitos outros fatores. Acredito que uma resposta em particular resume tudo isso:
“[...] não posso atribuir toda essa angústia ao colégio. Mas, eu me sinto esgotada o tempo todo com a escola, passo literalmente o dia inteiro sentada na frente do computador, [...], e mesmo assim, não consigo estudar tudo por estar ocupada estudando. [...] Estou cansada.”
E a culpa dessa insatisfação pessoal não necessariamente é toda do Coluni em si, mas também do fato de que estudamos no Coluni, como apontado por outra resposta anônima:
“Acho que existe uma pressão (que muita gente de fora não enxerga) por excelência, sabe?! Por estar sempre bem e produtivo (e não relativizam o que é essa produtividade). [...]”
De maneira geral, algumas respostas são assustadoramente parecidas. Estamos (quase) todos nos sentindo muito mal. Tendo isso em vista, é importante lembrar que o declínio generalizado da saúde mental dos estudantes é algo justificável, dado o contexto pandêmico, mas que não deve ser normalizado. Como muito bem mostrado na matéria de 2019, não é algo "normal'' que a maioria dos alunos se sintam tristes e deprimidos. Não é “normal" que muitos de nós tenham que tomar antidepressivos e ansiolíticos para viver.
É fato que a degradação da saúde mental dos estudantes não pode ser relacionada a um único fator, mas sim a uma complexa soma de vivências e contextos. Ao mesmo tempo, já que a educação é uma parte essencial das nossas vidas, o ambiente acadêmico também não pode ser dissociado dessa relação. Não há como reverter a pandemia, nem os danos causados por ela. O que é possível, na realidade, é trabalhar para minimizar e enfrentar impactos. Assim, devemos sempre cobrar e continuar cobrando respostas educativas coerentes e efetivas, que busquem o acolhimento e a reintegração social, da maneira mais segura possível.
Saúde mental, devo frisar, é algo extremamente importante, tanto quanto a saúde física. Não é algo que deve ser ignorado, nem por nós próprios nem pelas autoridades e lideranças que nos rodeiam. Nessa altura do campeonato, acredito que todos nós já ouvimos as dicas mais comuns, mas vale sempre repetir: se exercite, leia um livro, assista alguma série ou filme, passe tempo com as pessoas que você ama, mesmo que virtualmente. De maneira geral, faça algo que te faça feliz, ou ao menos, algo que não te faça mal. É necessário também sempre lembrar que a ajuda profissional deve ser procurada, caso você veja essa necessidade. O próprio Coluni e a UFV oferecem apoio psicológico gratuito e acessível, basta acessar COLUNI - Colégio de Aplicação (ufv.br) ou procurar por “Serviço de Psicologia Escolar”, no site do colégio.
Por fim, saibam que suas vozes são muito importantes pra gente, e que nós estamos escutando. Ouvimos seus sussurros, e seus gritos, todos eles. E queremos continuar ouvindo vocês, seus desabafos, depoimentos, reclamações e tudo mais. Acreditamos que esse espaço de fala seja muito importante para a comunidade escolar, principalmente agora. Assim, se você tem algo para sussurrar, ou pra gritar, não deixe de acessar o nosso site, a ser lançado no dia 18, e faça sua voz ser ouvida, anonimamente ou não.
Amo essa escritora!!! 👺