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Foto do escritorGrêmio Estudantil COLUNI

Entrevista: Átima, bombeiros e um urubu imortalizado

Escrito por: Amanda Santos


Atrás do COLUNI existe um ipêzinho amarelo. Logo na sua base existe um urubu enterrado. Isso mesmo. E esse urubu, por mais incrível que pareça, protagonizou uma das mais icônicas histórias do COLUNI, juntamente com a nossa querida professora Átima. Para quem já conhece o acontecimento, sabe que possui uma trama digna de filme - acontecem separações, caos, heroísmos falhos, uma tragédia e até mesmo uma dança xamânica. E ninguém melhor pra contar essa história do que a própria Átima.


A chegada da vítima

“Se eu fosse relatar dentre as mais bizarras, interessantes e marcantes histórias que eu já vivi no COLUNI, eu escolheria dentre elas a história do urubu. [...] Mas sou suspeita para falar por ser uma bióloga, [...] por ser uma pessoa que vem de sítio.

[...] não lembro a data específica não, mas eu acho que isso foi depois que eu voltei do meu doutorado. Eu voltei [...] em maio de 2014, então o ocorrido se deu em 2015, atrás do colégio e, muitas vezes, eu tenho o hábito de ficar observando eles naquele espaço.

Ali no COLUNI [...] tem uma população de urubu que frequenta muito o entorno e até os buracos ali da parede (muro), [...] e eu via que sempre eles estavam presentes em grande número, eles pousavam no telhado, numa árvore grande próxima ali do quintal e até na cerca. E eles foram ficando assim tão familiarizados ali que eu chego a pensar que há muitos anos eles já frequentavam (o local). [...]

Numa determinada semana eu percebi que dois urubus tinham adentrado ali no espaço do COLUNI. [...] Eles se colocavam pousados lá bem no alto, no mesmo lugar, por muitos dias e eu os observava. [...] Eu perguntava para mim mesma: será que é um casal? Será que eles estão se arrumando para um ninho? Será que eles se sentem protegidos?”


Plano de ação

“Eles não saíram de uma distância de 1 metro ali do lugarzinho onde ficavam.[...] E aquilo começou a me incomodar, inquietar [...] Um dia eu conversei comigo mesma e falei assim, eu vou providenciar chamar os bombeiros que ficam ao lado do colégio para me ajudar a entender e resgatar esses urubus.

Um ou outro aluno ou professor, não me lembro bem, chegou a me mostrar, mas eu fiquei na minha e tal. [...] Porque quando a gente se destina a resgatar um animal a primeira coisa que a gente deve fazer é não fazer o alarde, e tentar atuar, sozinha ou com a equipe adequada.

De repente um dia eu tomei a decisão de [...] bolar um horário fora do intervalo, e já deixar tudo articulado com bombeiro pra gente tentar resgatar esse animal. [...] Aí eu fui à casa do corpo de bombeiros, contei toda a história. [...] E falei assim, vocês devem ir de tal horário até tal horário porque eu não posso dispersar as aulas que estão acontecendo na escola com barulho e também não quero que seja no momento em que alunos estejam transitando pelos corredores, tipo horário do intervalo deles”


A tragédia

“Não sei se (os urubus) eram um casal, mas um deles já tinha conseguido deixar o local, sem que eu percebesse. [...] E você acredita que os danados (os bombeiros) chegaram exatamente na hora do intervalo? [...] E quando ele entrou, mostrei para ele o urubu, aí ele começou ali em frente à sala do 3D a montar a escadaria. [...] Aí ele veio com um cabo acoplado numa vassoura. Falei: moço não, eu não to pedindo pra você varrer o urubu!

E assim né, o urubu vendo todo aquele movimento, [...] sendo cutucado. Passei tanta raiva, sufoco, angústia, tudo que você puder imaginar tomou conta de mim. [...] E a meninada não entrava para a sala de aula, foi uma muvuca na escola, uma desordem. E eu brigando com aqueles bombeiros. [...]

Aí eu sei que eles conseguiram fazer o urubu sair do ponto onde ele estava estático, e ele foi em direção à saída. [...] E ele continuou voando lá em cima, no teto mesmo, de modo que quando ele chegou lá naquela altura da porta de entrada, no vidro, eu só vi ele fazendo assim PÁ. [...] Foi numa pancada só.”


O enterro

“Quando ele fez isso eu arrumei uma choradeira, [...] e xinguei muitooooo o bombeiro. [...] Fiquei nervosíssima, tremendo de angústia e muita dó [...] e eu peguei ele (o urubu) no colo e falei assim (para o bombeiro): agora o senhor vai me levar lá no museu pra fazer a taxidermia. [...] Aí quando eu cheguei no museu, ele (o curador) falou assim para mim que não tinha como, que não faziam mais o procedimento. Aí eu fui ficando mais nervosa, [...] mais revoltada. [....] Voltei com aquele bicho no colo de novo e, claro, o bombeiro me trouxe na porta do COLUNI.

Aí eu falava assim (pros alunos): gente, eu vou guardar o urubu até que eu tenha tempo pra plantar o urubu. E nós vamos fazer o enterro, vou chamar vocês para uma dança xamâmica em volta do urubu e [...] um dia numa aula prática vamos desenterrar os ossos do urubu e montar o esqueleto dele [...] E os meninos adoraram a ideia, mas naquele momento eu não podia fazer isso, então peguei aquele bicho, acondicionei numa sacola e o coloquei no congelador. Por muito tempo ficou lá escondido na geladeira do laboratório.

Até que chegou um dia que eu tirei ele e levamos lá pra trás do COLUNI. Fizemos uma cova, enterramos, cobrimos, cantamos uma musiquinha, [...] e depois eu plantei uma mudinha de ipê amarelo. Aí eu plantei o ipê bem do lado porque assim [...] ia ser um ponto de referência de onde estaria escondido o urubu. E hoje tem um ipêzinho lá, [...] atrás da sala de artes, ali no anexo. [...] E na base dessa arvorezinha está o esqueleto do urubu. Melhor, do Urubátima como batizou os alunos.”


Segundo a professora, até o momento não aconteceu mais nenhum caso do tipo no colégio. Ela também acredita que esses animais vieram da moita de bambu que fica atrás do COLUNI, e desconfia que eles choquem naquele local. Vale notar também que o urubu parece ter morrido logo no impacto, devido a uma parada cardiorrespiratória, ou seja, não sofreu muito durante seus últimos segundos de vida. Assim esperamos. E que, no futuro, nenhum outro animal encontre seu fim nos vidros do COLUNI.


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