Uma retrospectiva Cláudio P. S. Eudônimo de cinema
2021 foi um ano bem agitado para o cinema. Mesmo com uma variedade de produções muito maior que 2020, este ano ainda sofreu com atrasos e refilmagens devido aos resquícios da pandemia. No entanto diversas obras de grandes orçamentos ainda foram produzidas e liberadas ao grande público. Como de costume dessa década, prevaleceram os serviços de streaming, com um investimento ainda maior em grandes produções. Pouco do cinema nacional se destacou esse ano, com menos filmes sendo colocados aos holofotes públicos. Do cinema internacional, o acessível prevaleceu majoritariamente estado-unidense, impedindo que este singelo crítico em aspiração pudesse assistir grandes obras de outras nações (embora algumas exceções existam).
De todo modo, aqui estão selecionadas, do bão ao mais bão, as melhores películas de acetato de celulose revestidas por emulsão sensível à luz e destinadas a registrar imagens fotográficas, com múltiplas fotos em sequência compondo filmagens acima de 45 minutos, ou mais, de duração. Lembrando que o ano não acabou, então eventuais filmes podem ser adicionados nessa lista futuramente. É seu zé. To falando com você aí reclamando que Homem-Aranha não tá na lista. Me conta aí como que ele foi, porque eu ainda não sei.
10# Rua do medo: 1666 - Parte 3
A trilogia Rua do Medo foi lançada inteiramente esse ano na Netflix, com o intervalo de apenas uma semana entre cada filme. Ela conta a história de um grupo de jovens que desvenda o mistério por trás da morte de uma bruxa centenas de anos antes, em sua cidade natal. Cada filme se passa em uma época própria com um grupo de personagens diferente, até que a segunda metade de “1666 - Parte 3” une todas as linhas temporais numa história final.
Achei a parte 1 bem medíocre, porém gostei da 2. Rua do Medo foi um projeto bem interessante, e de longe o terceiro filme é o melhor, concluindo a história perfeitamente e trazendo revelações bombásticas. Embora o filme seja de terror, não teve um aspecto que eu realmente achei aterrorizante. Porém o filme brilha em outros méritos.
Rua do Medo é pra quem procura um terror slasher adolescente, simples, divertido e empolgante. Com elementos sobrenaturais e bastante violência gráfica.
8/10
9# Anônimo
Anônimo é o típico filme brucutu de ação, onde um assassino profissional, depois de anos aposentado, volta à ativa em busca de vingança pelo homem que matou seu cachorro, ou ameaçou sua família, ou pôs fogo em sua casa etc. Variações podem ocorrer. Ah, e provavelmente ele vai destruir a máfia russa inteira no caminho.
Enquanto não sai o próximo John Wick, Anônimo é um bom substituto. A história é bem comum, porém o filme é excepcional na forma que coreógrafa, filma e edita sua ação, além de incluir alguns momentos de humor que fazem graça do quão absurda e ridícula é a trama. Não sei o que falar. Só é divertido ver um cara de meia idade saindo no soco com um monte de figurante sem a menor preocupação em causar danos à propriedade privada alheia.
8/10
8# Luca
Luca é o mais novo filme da Pixar, e já conseguiu conquistar o coração de todos que o assistiram. Se passando no litoral italiano, a animação acompanha Luca, um menino meio-peixe-meio-menino que resolve se aventurar na terra firme, incentivado pelo companheiro Alberto. Juntos, Alberto e Luca passam por diversas descobertas enquanto fortalecem seus laços e ganham novas amizades.
O filme é bem bonitinho e tem uma narrativa bem simples, trazendo diversos aspectos da infância. Seja andar de bicicleta, tomar um sorvete na praia, desenvolver afeto por aqueles que não se espera, praticar atividades ilegalmente perigosas, ou seja, coisas de criança, Luca tem alguma coisa para todo mundo se identificar.
8/10
7# A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas
Continuando com as animações e voltando para a Netflix temos essa pequena pérola dos mesmos escritores do desenho Gravity Falls e dos produtores de Homem-Aranha no Aranhaverso. A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas é uma explosão de cores e valores, trazendo humor, personagem e uma energia sem tamanho.
O filme conta a história dessa família que se encontra no meio de um apocalipse tecnológico controlado pelas máquinas, e precisa lidar com as suas diferenças para sobreviver e impedir a extinção da humanidade. Apesar da trama grandiosa, Mitchells é uma aventura leve, hilária e com um estilo único de animação.
8/10
6# Evangelion: 3.0+1.0 Thrice Upon a Time
...eu posso explicar. Vamos falar de Evangelion.
Algum contexto é necessário. Talvez uma das coisas mais desoladoras que tenham acontecido comigo em 2021 foi ter caído no mundo dos animes. Eu nunca havia assistido nada dessa forma midiática japonesa e pretendia continuar assim. No entanto fui indicado por amigos a assistir a série Neon Genesis Evangelion. E eu adorei. É um anime bizarro, com várias analogias religiosas e subtextos, personagens questionáveis e um final extremamente abstrato e confuso. Essa foi a reação da maioria que assistiram NGE na época que foi lançado. Porém, alguns tiveram reações bem menos entusiastas.
O anime sofreu com diversos problemas de orçamento e tiveram que improvisar um conceito completamente diferente para o episódio final, mas ainda mantendo os valores da série e a visão do criador, que ficou bem satisfeito com o resultado. Mas a revolta foi geral. Ameaças e ataques de fãs insatisfeitos devastaram o estúdio, que focou na produção de um filme de evangelion: The End of Evangelion (1998). O filme buscava encerrar a história com a visão inicial do criador (além de reagir às reações tóxicas dos fãs insatisfeitos). O filme resultou num final ainda mais abstrato, o que confundiu ainda mais os fãs. Anos mais tarde, o criador Hideaki Anno decidiu recontar sua obra, e iniciou a produção de uma série de filmes reboot de Evangelion. E apenas esse ano, em 2021, tivemos a conclusão definitiva de sua saga no formato desse quarto filme, Evangelion: 3.0+1.0 Thrice Upon a Time, que reconta a história pela terceira vez.
E aí, caro leitor, você me pergunta: “Cláudio, mas sobre que raios é Evangelion?”. E eu lhe respondo, que eu não vou lhe responder. Pois eu gastei o espaço inteiro dessa resenha só pra explicar o contexto do filme. Só saiba que esse é bão. 8/10. E aliás, The End of Evangelion (1998) é um 11/10 sem qualquer discussão.
5# Duna
Na quinta posição temos Duna, um épico de Denis Villeneuve, que adapta o livro de mesmo nome de Frank Herbert. Por anos Duna ficou conhecido como o livro inadaptável para o cinema, com inúmeras tentativas tendo sofrido de problemas de produção e resultados decepcionantes. Mas nessa primeira parte de uma prevista duologia, pode-se ver que Hollywood finalmente prevaleceu. Duna é um sucesso.
Sendo um épico de ficção científica que inspirou centenas de outras obras ao longo da história, Duna conta a jornada de Paul Atreides, o herdeiro da casa Atreides, que é enviado para o planeta deserto Arrakis, para controlar a extração e exportação da especiaria Melange. Paralelos óbvios com a situação do combustível fóssil no oriente médio podem ser traçados, e Duna faz total uso desses paralelos a sua vantagem. O design de produção e cinematografia inspirados, de brilhar os olhos, corroboram para contar essa aventura épica por esse deserto desolado e cheio de minhocas gigantes.
9/10
4# Pig
Alguns diriam que o Nicholas Cage faz filmes ruins. E eles estão certos. Mas não em Pig. Pig é bão.
Desconstruindo completamente o gênero do brucutu vingativo (olha só! É basicamente a antítese de Anônimo), Pig trás uma história bem simples, porém densa, extremamente bem atuada, cheia de carisma e uma história magistralmente executada. Na trama, Robin, um ex-chefe de cozinha, vive sozinho na floresta com sua porca premiada rastreadora de trufas. O filme trata de várias questões como a aposentadoria e o mundo da gastronomia. É quase um Ratattouile. Só que sem ratos. Ou franceses.
9/10
3# O Esquadrão Suicida
O Esquadrão Suicida é um triunfo do entretenimento e o melhor filme baseado em quadrinhos do ano. Dirigido por James Gunn, conhecido por Guardiões da Galáxia, o filme atua como uma espécie de remake do filme Esquadrão Suicida (2016) além de atuar como sequência direta. A história fala de um grupo de vilões encarcerados e dispensáveis, que são colocados em um esquadrão, de modo a cumprirem missões perigosas e de grande sigilo em troca de uma redução em suas penas. O filme anterior ficou conhecido por sua qualidade pobre e infame interpretação do personagem Coringa, por Heath Ledger (embora a interpretação da personagem Arlequina por Margot Robbie tenha sido um sucesso no público). Mas não dessa vez.
O Esquadrão Suicida obtém sucesso em todos os aspectos que faltaram em seu predecessor, com um elenco de personagens extremamente diverso e carismático, cenas de ação espetaculares de tirar o fôlego, humor ácido e pesado, característico de Gunn, e uma boa dose de violência gráfica.
9/10
2# The Green Knight
The Green Knight, ou o Cavaleiro Verde, visto que o filme não possui tradução oficial no Brasil, é uma adaptação do poema arturiano de mesmo nome. O filme se passa em uma versão fantasiosa da Inglaterra medieval, onde Sir Gawain da távola redonda do Rei Arthur participa de um jogo misterioso. Um cavaleiro verde de habilidades místicas chega na cidade e desafia o cavaleiro mais nobre para um jogo. O cavaleiro que jogasse receberia seu machado, que reúne os poderes da natureza. A vila teria comida farta por todas as estações, porém com uma única exceção: O cavaleiro deveria ceder-lhe um golpe. Esse golpe seria retribuído pelo cavaleiro verde no ano seguinte, que desferiria o exato mesmo ataque. Sir Gawain se voluntariza e vitorioso decepa a cabeça da criatura fantástica. Porém ela a encaixa de volta no pescoço e deixa a cidade a gargalhadas.
9/10
1# Judas e o Messias Negro
Já comentado na edição anterior d’O Prisma, pelo exímio escritor e jornalista Daniel Rubinger Leite, Judas e o Messias Negro fica no primeiro lugar, como o melhor filme de 2021 até então.
Uma obra de imenso valor histórico e cultural, com atuações excepcionais e direção primorosa. Judas e o Messias Negro conta a história real de Fred Hampton, o líder dos Panteras Negras, e de Bill O’neal, o traidor que o condenou a morte.
9/10
E chegamos ao fim de nossa lista. Agradeço a todos os leitores da nossa área de cinema do jornal. O Prisma está apenas começando, e espero que ano que vem possamos assistir e comentar muito mais filmes, e continuar compartilhando essas experiências e sugestões com vocês.
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